Durante o período de férias é comum haver um aumento exponencial do fluxo de automóveis que pegam as estradas brasileiras. Com a preocupação de chegar a tempo no litoral ou em outros lugares, a fim de curtir férias e o carnaval, muitos motoristas se esquecem de realizar a manutenção preventiva nos seus veículos. O resultado, que se repete com frequência, todo mundo já conhece: carros parados nos acostamentos, congestionamento e, infelizmente, fatalidades.
Por essa razão, nestes tempos de completa loucura e afobação, a missão do mecânico automotivo é orientar seus clientes em relação aos cuidados preventivos necessários para uma viagem segura. Além dos passageiros chegarem ao destino efetivamente, previne danos e gastos desnecessários com o veículo. Por mais que o cliente alegue que haja custos, o importante é reforçar que medidas simples agregam benefícios e evitam dores de cabeça a longo prazo. E, com certeza, o prejuízo de uma manutenção corretiva é muito maior do que uma preventiva. Confira abaixo as orientações de especialistas nos componentes automotivos mais revisados na oficina:
Amortecedores
A principal função do amortecedor é manter o contato permanente entre os pneus e o solo. De acordo com Nilson Tadeu Durães, gerente de engenharia de produto e treinamento da Monroe “quando este componente está desgastado gera a “aquaplanagem”, perda de controle no solo molhado, além de perda de estabilidade, aumento na distância de frenagem, trepidações, ruídos e desgaste prematuro dos pneus”.
As condições das ruas e estradas, e também a forma de dirigir o veículo, influenciam diretamente na conservação dos amortecedores. A Monroe recomenda uma revisão anual ou a cada 10 mil quilômetros de rodagem, o que ocorrer primeiro. Ou até mesmo quando o motorista notar qualquer anormalidade com o veículo.
Para Jair Silva, supervisor de serviços da Affinia Automotiva, o alinhamento de direção e o balanceamento das rodas também podem ajudar a prolongar a vida útil dos amortecedores. Outra dica dele é não aceitar em hipótese alguma oferta de itens recondicionados. “Não há como aproveitar o amortecedor usado, as peças sofrem desgaste e o componente deve ser substituído por outro novo com as mesmas características e qualidade do modelo original, não coloque em risco a sua segurança e a de sua família”.
Ele afirma que o processo de certificação do amortecedor para o mercado de reposição já está em andamento. “A partir de janeiro de 2013, fabricantes devem produzir apenas amortecedores com o selo do Inmetro e a comercialização para o varejo torna-se obrigatória a partir de julho de 2014”, avisa.
Bateria
Fornecer a energia necessária para a partida do motor é a responsabilidade da bateria automotiva. Marcos Randazzo, engenheiro de aplicação da Baterias Heliar, explica que o item também alimenta todo o sistema elétrico do veículo quando o motor não está em funcionamento “Além disto, auxilia o alternador, por tempo determinado, se por algum motivo ele não conseguir fornecer a totalidade da corrente elétrica necessária, estabilizando a tensão do sistema elétrico como um todo”.
Segundo ele, em utilização normal, a bateria automotiva tem duração média de 2,5 a 3 anos. “Este dado pode variar porque existem no mercado baterias de diferentes níveis de tecnologia. Uma bateria de primeira linha naturalmente tem maior durabilidade, porque o seu tempo de vida útil está ligado a dois fatores principais, que são a sua tecnologia de fabricação e a utilização no veículo”.
Bomba de combustível
A bomba elétrica de combustível trabalha em conjunto com o sistema de injeção do motor, a fim de garantir que a pressão de combustível esteja dentro dos limites de funcionamento. De acordo com Gabriel Lima, supervisor de engenharia de produto da BU Fuel Supply Systems da Continental, a bomba de combustível é projetada para durar toda a vida do veículo, mas dois fatores relacionados à manutenção podem influenciar na durabilidade do produto.
O primeiro, ele diz, é a atenção com a qualidade do combustível usado para o abastecimento. “O consumidor deve sempre utilizar combustível de procedência caso contrário pode ocorrer corrosão e depósito de contaminantes na bomba, provocando sua parada e conseqüente pane do veículo”.
O segundo tem relação com o filtro do combustível, que deve ser trocado dentro do período especificado pelo manual do veículo. “O filtro sujo força a bomba, que passa a trabalhar com corrente elétrica mais alta. Em casos extremos, o filtro sujo pode rasgar e, desse modo, perder completamente a sua capacidade de retenção de partículas, deixando de proteger o sistema. Neste caso, o principal impacto ocorrerá nos injetores de combustível do motor”, explica. Sem a devida manutenção, o componente também aumenta o nível de emissão de poluentes.
Cabo de ignição
Para uma partida sem falhas, o cabo de ignição deve estar em perfeito estado e conduzir a alta tensão produzida pela bobina até as velas, sem permitir fugas de corrente. “Peças desgastadas podem comprometer o pleno rendimento do motor, além de danificar outros componentes como a vela de ignição e o catalisador, caso o combustível não seja queimado da maneira correta”, detalha Marcos Mosso, engenheiro da NGK.
Segundo ele, o prazo de substituição do componente deve ser a cada 2 anos ou 60 mil km. “Não é recomendado o manuseio dos cabos com a utilização de ferramentas como alicates, por exemplo. O produto deve ser instalado ou desinstalado manualmente, tomando o cuidado para que não seja manuseado pelo fio.
Catalisador
Os gases tóxicos produzidos pelo motor são transformados em gases inofensivos ao meio ambiente graças ao catalisador. “Quando o item está danificado ou ausente do conjunto, provoca alteração da contrapressão do sistema de escapamento e a consequente desregulagem do sistema de informação da injeção eletrônica, ocasionando aumento do consumo de combustível e perda de rendimento do motor, além do aumento das emissões”, afirma Carlos Eduardo Moreira, gerente de desenvolvimento de novos negócios da Umicore.
Projetado originalmente para ter a mesma durabilidade do automóvel, a durabilidade do catalisador pode ser reduzida pela falta de manutenção dos itens que afetam o funcionamento do motor, como velas e cabos, filtros, combustíveis adulterados e outros itens. “É sempre indicado realizar uma revisão preventiva de acordo com o manual do veículo, em média a cada 10 mil km”, orienta.
Para combater o mercado ilegal de peças, o Inmetro passou a exigir a certificação dos catalisadores vendidos, com o selo colocado na peça e na embalagem do produto. “Na hora da troca, o consumidor deve somente adquirir catalisadores que possuam o selo no produto e na embalagem, além do certificado de garantia”, recomenda Carlos.
Correias
Parte do sistema de transmissão de força de um veículo, existem dois tipos de correias que devem ser inspecionadas na revisão de férias. “A primeira são as assíncronas, que transmitem rotação e potência aos acessórios (alternador, direção hidráulica, ar condicionado). A segunda são as síncronas, que são responsáveis pelo funcionamento do motor. Sincronizam o movimento dos pistões, ligados ao eixo de manivelas, com os eixos de comando de válvulas”, diz Rogério Merizio supervisor técnico da Dayco.
De acordo com diz Fabio Murta, coordenador de marketing da Gates South America, a correia sincronizadora da Gates é produzida com um composto especial de borracha, chamado HNBR. “Este componente é mais resistente que o antigo Cloroprene, já que os motores modernos trabalham cada vez mais em maiores temperaturas e potências. Recomendamos que veículos produzidos a partir de 1996, utilizem as correias HNBR.”
O prazo de troca das correias das correias sincronizadoras pode ser em torno de 40 mil e 65 mil km. Também já existem correias para veículos pesados que podem durar até 120 km. No entanto, verifique sempre o manual do veículo para fazer a troca no prazo certo. Faça a inspeção visual a cada 15.000 km. ”Caso a troca não seja efetuada no prazo, em caso de quebra, o prejuízo total pode ser calculado em mais de 30 vezes o valor do produto, já que muitas partes vitais do motor serão afetadas,” afirma Murta.
Segundo Gilvan Santos, engenheiro de vendas de produtos automotivos da Goodyear, o gasto preventivo com troca de correias e tensionadores é 90% menor em relação a manutenção corretiva. “Não efetuar a devida manutenção dentro do prazo o prejuízo é maior. Caso correia quebre, pode haver o atropelamento das válvulas, e muitas vezes o empenamento ou quebra. Desta forma, acabam danificando a camisa do pistão, o próprio pistão e parte do bloco ou cabeçote”, relata.
Quando estão danificadas, as correias também podem gerar problemas de carga da bateria e pane elétrica, falha no acionamento da bomba hidráulica da direção, superaquecimento e, em caso mais grave, o desfiamento da correia de acessórios e sua interferência na correia de sincronismo. “A negligência na troca da correia sincronizadora têm como consequência imediata a parada do motor. O seu rompimento traz outras problemas como avarias em pistões, válvulas, cabeçote e bielas, todas com custo alto e que demandam tempo maior para reparo”, diz Rogério.
Filtro de ar
A finalidade do filtro de ar é separar e eliminar as impurezas contidas no ar aspirado pelo motor e enviado para a câmara de combustão. Segundo Fábio Oliveira de Castro assistente técnico da Tecfil, o filtro também protege componentes internos do motor como camisa, anéis e pistão contra desgastes causados pela contaminação presente no ar. “Estes desgastes fazem o motor consumir e queimar óleo lubrificante e emitir fumaça pelo escapamento, diminuindo a vida útil do motor”.
Quando está desgastado este componente pode acarretar problemas na câmara de combustão. Por isso, deve substituído conforme determina o manual de cada veículo recomenda Raul Cavalaro, gerente de marketing e vendas da MANN-HUMMEL. “A correta manutenção começa pela substituição do elemento filtrante do ar dentro. Um dos riscos da não substituição é o aumento excessivo no consumo de combustível, alinhado à uma perda de rendimento do motor causada pela dificuldade de aspirar ar limpo”, conclui.
Filtro de cabine
A qualidade do ar dentro do habitáculo depende muito do filtro de cabine. “Além de separar as partículas por filtragem mecânica e eletrostática, impede também a passagem de odores de gases, melhorando o conforto interno do veiculo”, diz Fábio. A substituição do filtro de cabine também mantém a integridade do sistema do ar condicionado. “No caso de problemas com o filtro, pode haver a proliferação de fungos e bactérias que contaminam todo o sistema, gerando a necessidade de uma manutenção de alto custo em todo o sistema, incluindo a desmontagem do painel do veículo em alguns casos”, complementa Raul.
Filtro do combustível
Esta tecnologia impede a entrada de impurezas no sistema de alimentação do motor, garantindo combustível isento de resíduos que podem prejudicar o seu desempenho. Segundo Raul, problemas neste filtro estão relacionados à má qualidade da gasolina, etanol ou óleo diesel. “A recomendação é estar atento à procedência do combustível, abastecendo o carro somente em estabelecimentos de confiança. Uma dica é habituar-se a abastecer sempre no mesmo lugar”.
Fábio ressalta que o filtro de combustível deve ser trocado dentro da quilometragem recomendada pelo manual do fabricante do veículo. “Quando está fora do prazo, além de interromper o fluxo do combustível e o motor parar, pode também queimar a bomba de combustível”, alerta.
Filtro do Óleo
O componente impede a entrada de impurezas provenientes do óleo no motor. “A sujeira do óleo torna a lubrificação menos eficaz, e tem grande influência na durabilidade do óleo”, afirma Fábio. Para o gerente Raul, o filtro do óleo deve ser substituído regularmente, conforme determina o manual de cada veículo. “O motorista deve estar atento às condições de uso do seu veículo. Condições severas podem acelerar o desgaste do filtro do óleo, como tempo excessivo do veículo em marcha lenta. Recomenda-se atenção especial em cidades em que os congestionamentos são freqüentes”, diz.
Palhetas
Em dias chuvosos, as palhetas têm a função de retirar a água do para-brisa e garantir uma melhor visibilidade na estrada. Vilmar Betarello, responsável por treinamento da divisão Automotive Aftermarketing da Bosch, afirma que palhetas defeituosas comprometem de visibilidade e podem danificar o para-brisa.
De acordo com ele, a substituição das palhetas deve ser feita pelo menos uma vez por ano ou sempre que forem observados, no para-brisa, formação de faixas , riscos, ruído, trepidação, formação de névoa e falhas na limpeza. “Analise também a palheta que não pode apresentar lâmina de borracha quebradiça, torta ou rasgada”.
Sensor de oxigênio
A tecnologia detecta os níveis de oxigênio nos gases de escape do motor, informando a qualidade da mistura de ar e combustível à unidade de controle do veículo. “Um sensor de oxigênio desgastado causa desequilíbrio no consumo de combustível e pode até provocar panes no automóvel, além de resultar no aumento de emissões de poluentes”, explica Marcos Mosso, engenheiro da NGK. Segundo ele, deve-se realizar a inspeção de funcionamento sempre que a luz de falha do painel acender ou a cada 10 mil km.
O especialista reforça que os fios do chicote do sensor de oxigênio nunca devem ser perfurados ou descascados, já que líquidos podem penetrar no interior do sensor, afetando o seu funcionamento. “Durante a instalação não deve ser aplicado, em hipótese alguma, produtos como “micro óleo” ou “limpa contatos” no conector do sensor, pois estes produtos podem penetrar pelos fios do sensor e danificá-lo”, avisa.
Sistema de freios
Considerado um item de segurança ativa, o freio é usado para parar ou reduzir a velocidade do veículo. O sistema é complexo, já que é composto por cilindro mestre, servo freio, cavaletes, cilindros de roda, discos, pastilhas, tambores, sapatas/lonas, flexíveis, líquidos para freios e encanamentos rígidos. “A falta de manutenção dos materiais de atrito e do sistema hidráulico, que tem o fluido como o principal componente, pode acarretar em uma série de problemas que vão influenciar na hora da frenagem, prejudicando o desempenho do sistema e colocando em risco os ocupantes do veículo”, afirma Henrique Afonso Carignato Ernits, consultor técnico da Continental, detentora da marca de freios ATE.
O componente deve ser inspecionado a cada 10 mil km ou ao menos uma vez ao ano. A durabilidade do sistema, no entanto, depende de uma série de fatores, como a forma de condução do motorista, por exemplo. “Os materiais e superfícies de atrito são itens que devem ser analisados nas revisões preventivas. Sua durabilidade depende do sistema hidráulico, das marcas das peças, assim como é utilizado o veículo. Quanto maior a exigência em função da velocidade e do peso a bordo, menor a durabilidade desses materiais”, diz.
Sistema de arrefecimento
Em geral, um motor desenvolve uma temperatura superior a 2.000ºC de calor dentro da câmara de combustão. Isso seria suficiente para fundir um motor completamente em menos de trinta minutos. “O sistema de arrefecimento ajuda o motor trabalhar dentro dos limites de temperatura para o qual foi projetado. Assim, tem uma melhor eficiência, mais torque, sem excesso de consumo de combustível ou altos índices de poluentes”, lista Alberto Ferreira Maciel, assistente técnico da MTE Thomsom.
Segundo Alberto, a manutenção preventiva deve ser feita a cada 30 mil km efetuar. “A verificação inclui a troca do líquido de arrefecimento, além de verificação do funcionamento da válvula termostática, do interruptor térmico do radiador e o sensor de temperatura, principalmente o da injeção eletrônica”.
A substituição do líquido de arrefecimento deve ser cumprida rigorosamente conforme o manual de instrução do veiculo ou utilizando 60% de etileno glicol e 40% de água desmineralizada. “Sem manutenção, diminui o tempo de vida útil dos pistões, anéis, cilindros, comando de válvulas, bielas virabrequins e cabeçote, pois muda o comportamento do óleo lubrificante em função da temperatura”.
Outros componentes que ficam comprometidos são: válvula termostática, sensores, interruptor térmico, bomba d’água, mangueiras, reservatório de expansão, eletro ventilador e radiador por corrosão galvânica. “Por conseqüência, ainda afeta os sistemas de injeção e ignição: velas e cabos, bobina, modulo de ignição, sonda lambda, catalisador e aumenta os índices de poluição pela condutividade elétrica do liquido de arrefecimento com o Ph alterado”.
Velas
O principal papel das velas é produzir faíscas elétricas geradas entre os eletrodos dispostos em suas extremidades. As faíscas são as responsáveis pela queima da mistura oxigênio-combustível, que gera a energia necessária para o trabalho do motor e, consequentemente, para a movimentação do veículo. “Além disso, outra função que pouca gente sabe é dissipar o calor excedente gerado pela combustão dentro da câmara. Por isso, as velas não são iguais. Cada motor tem um regime de rotação, potência e temperatura necessitando de uma vela específica a sua condição”, explica Vilmar Betarello, responsável por treinamento da divisão Automotive Aftermarketing Bosch.
De acordo com Marcos Mosso, engenheiro da NGK, quando a vela está comprometida pode gerar diversos problemas no automóvel. “Peças desgastadas têm impacto no rendimento do motor, economia de combustível e controle da emissão de poluentes, além de resultar no aumento do custo de manutenção do veículo, pois pode danificar os cabos, bobina e até componentes como catalisador e sensor de oxigênio”, avalia.
Segundo Vilmar, existem diferentes tipos de velas e a substituição deve ser feita ser feita conforme a recomendação do manual do fabricante. “O mecânico deve consultar o manual do veículo ou a tabela de aplicação disponível nas lojas de autopeças e oficinas mecânicas, para verificar qual é o modelo correto para o motor daquele veículo. A aplicação incorreta pode gerar sérios problemas para o motor, desde o excesso de consumo e contaminação até a perfuração de um pistão do motor”, alerta.
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Fonte: O Mecânico Online